Steve Jobs chega ao Céu

Ao identificá-lo na fila, São Pedro cutuca com o cotovelo um de seus assessores e o aponta com o queixo. A expressão do assessor o fez perceber que era aguardado. O assessor se aproximou e pediu para que o acompanhasse. Sem jeito, saiu da fila formada em frente a São Pedro, que checava cada entrante.

Ao passar por ele, ainda hesitou, mas o guardião de barbas brancas o cumprimentou com um olhar e uma leve inclinação com a cabeça, fazendo em seguida um sinal para que passasse logo.

O Anjo – agora podia ver que o assessor era um – o encaminhou, enquanto puxou conversa com algumas palavras. Logo chegaram a uma grande sala, em cuja porta havia uma pessoa, mais um guardião.  Ao vê-los, rapidamente abriu a porta. Ao passar e olhá-lo, talvez com uma expressão de questionamento, talvez com algum receio, foi retribuído com um sorriso tranqüilizador.

O Anjo ficou um pouco tenso, ou apreensivo. Na sala, descobriu o motivo: era o próprio Criador, sentado em um trono, logo à frente. Alguns discutiam animadamente à volta. Jobs pôde identificar rapidamente um deles – o Arcanjo Gabriel.

O Criador os viu, sorriu e fez um gesto para que ele se aproximasse logo. Chegou a pensar que havia alguma excitação no rosto d’Eele, não tinha certeza. Pôde perceber, sem dúvida, a agitação dos outros, exceto no Arcanjo Gabriel, que estava mais tranqüilo. De alguma forma, ao olhá-lo, entendeu que deveria se aproximar, pois Ele queria lhe falar.

Ficou bastante tenso e desviou o olhar enquanto se aproximava. Quando olhou novamente Ele, foi tomado por uma sensação de paz e tranquilidade difícil de descrever – era como se tudo estivesse sob controle.

– Peço desculpas, rapaz – começou o Criador – não costumamos chamar os recém-chegados antes de se adaptarem. Muitos veteranos ainda ficam tensos em minha presença – falou, voltando o olhar para o Anjo que o havia acompanhado, que só não ficou mais nervoso porque Ele terminou a frase com um sorriso acolhedor, no que foi seguido pelo Arcanjo.

– Pois, não… – balbuciou Jobs, sem saber o que dizer – e a que devo essa honra, falou recuperando-se rapidamente.

– Sabe o que é… – Ele continuou, com alguma excitação – … será que você me conseguiria uma daquelas suas pranchetas…

Jobs sorriu, aliviado.

– Claro! – quando foi tomado por uma uma dúvida que o fez se arrepender de ter dito aquilo. Afinal, onde iria conseguir um iPad, ali… E o todo poderoso não poderia conseguir uma sozinho. Como iria fazer, arrependeu-se.

Antes que pudesse pensar, esticou o braço e entregou o objeto que estava em sua mão. Não fazia a menor idéia como aquele iPad foi parar ali. Sem entender nada, imaginou que aquilo só poderia ser alguma deferência, afinal o todo poderoso é todo poderoso…

O Criador pegou o aparelho e começou a manuseá-lo. O Arcanjo Gabriel olhava com atenção. Os outros ficaram em volta d’Ele, olhando, curiosíssimos. O Anjo que o acompanhou se pôs entre eles. Jobs podia notar a visível excitação de alguns deles.

Pouco depois, uma pequena explosão de fogo surge em um canto da sala. Jobs pôde indentificar o diabo, acompanhado de algum tipo de entidade, que não identificou, mas era apavorante.

Jobs tremeu, e viu o pânico tomar conta de alguns. Entretanto todos se acalmaram quando viram a tranquilidade do Arcanjo e o pouco caso feito por Ele. Os novos se aproximaram e suas feições foram ficando mais normais – se é que algo podia aparecer como normal para Jobs.

O Criador e o diabo se encararam, mas serenamente, como se o fizessem regularmente. Pareciam dialogar, mas não havia voz, apenas olhares. O Criador não se alterou. Sorrindo, tomou o aparelho do Arcanjo e o entregou ao diabo, sorrindo. Este o pegou, quando Jobs percebeu claramente um sorriso no canto da boca. De pé, o diabo olhou para o Criador e sorriu agradecidamente.

Caminhou, então, para o canto que tinha aparecido. O assessor estranho olhava por cima do ombro, curioso. Ao chegarem ao canto da sala, voltaram-se para o grupo e, olhando o Senhor, curvaram a cabeça em um gesto que indicava uma despedida e um agradecimento, no que foram acompanhados por todos do grupo. Jobs viu-se fazendo o mesmo, como que instintivamente. Outra pequena explosão os fez sumir.

O Criador se vira para Jobs e explica, sem ser perguntado, fazendo pouco caso daquilo tudo.

– É um dissidente. Tem umas idéias muito diferentes das minhas…

Jobs ficou pasmo, só faltou o Senhor dizer que “é um Bom Menino”. Foi quando percebeu pela primeira vez a “infinita bondade”.

– Mas vocês mal tinham visto o aparelho… – Jobs comentou.

O Criador inclinou-se para frente, pegou Jobs pelo antebraço e confidenciou, sursurrando:

– Ele estava louco para ganhar um desses …

Foi quando Jobs percebeu a “infinita bondade” pela segunda vez.

E então notou que tinha em sua mão outros iPads, e os entregou para cada um dos presentes. Enquanto o fazia, sentiu a falta do Criador. O viu em um canto, olhando a cena com satisfação e um sorriso no rosto. Ao ver que Jobs o achou, sacudiu a cabeça em aprovação, e desapareceu.

Steve Jobs entendeu que havia um propósito naquilo tudo, e ficou com um nós na garganta, querendo chamá-lo de Pai. Mas tinha entendido o que todos ali já sabem… não era preciso.

Igualdade entre sexos

Acredito que as duas coisas que melhor indicam o grau de civilidade de um grupo de pessoas são:

  • a aceitação dada aos diferentes;
  • o grau de igualdade que as mulheres possuem naquele grupo.

Igualdade das mulheres não é viver igual aos homens, mas ter a mesma liberdade de escolhas que eles.

No fim das contas, creio que a situação da mulher pode ser enquadrada na categoria anterior, pois não deixa de ser um tratamento diferente dado pelo grupo dominante (homens, historicamente dominante, diga-se de passagem) a um grupo diferente. Assim, retornamos ao ponto central – aceitação da diferença.

O mundo anda muito diferente em relação à igualdade das mulheres. Alguns lugares já evoluíram muito. Em outros, as mulheres são podadas de diversas maneiras.

No Brasil temos situações opostas. Por um lado, há casos quase bárbaros de tratamento, por outro há muitos casos de mulheres que são vistas como iguais. Sempre nossos contrastes…

Na eleição de nossa Presidenta, como prefere ser chamada, não vi ninguém comentar que pretendia votar a favor ou contra pelo fato dela ser mulher. Ponto para o Brasil, que nesse caso foi perfeito em termos de igualdade entre sexos. Igualdade é isso, não é dizer que é melhor ou pior, é dizer que tanto faz, é nem por essa questão na mesa.

Clãs de ontem e de hoje

Apesar de nossa modernidade e civilidade, ainda engatinhamos ao lidar com a diferença, o diferente. Discriminações de por credo, raça, classe, sexo, origem, indumentária, sotaque, e outras tantas são diversas formas de não aceitação do diferente. Essa dificuldade pode ter alguma raiz em nosso passado evoluivo e cultural, então, é algo a ser combatido no dia a dia, por todos.

Temos uma componente histórica – cultural ou genética – que talvez nos impele a ter medo do diferente, do desconhecido. Talvez tenha sido um comportamento vencedor no passado, pois o desconhecido pode trazer de fato riscos, entretanto hoje esse comportamento pode não ser adequado em alguns momentos.

As cidades modernas dissolveram, ao menos aparentemente, os clãs. São unidades maiores que as famílias e menores que as cidades. Entretanto, ainda temos a expressão dessa forma de agremiação humana, latente em nossa sociedade.

Ela se apresenta como uma necessidade de divisão da cidade em grupos, em times, em partes. A face mais evidente dessa divisão é o futebol. Grandes cidades proporcionam pelo menos um par de alternativas antagônicas de times. Outras vezes a rivalidade se exprime em outros esportes, escolas de samba, rivalidades por bairros, religiões, crenças políticas, e outras tantas manifestações que, no fim das contras, revelam uma necessidade de separar o “nós” do “eles”.

Esse antagonismo necessário reflete o tempo dos clãs, quando desconfiar do diferente era uma atitude vencedora.

As sociedades modernas, e as cidades – sua aglomeração mais comum – não convivem bem com essa lógica. As cidades são, ou deveriam ser, um ambiente seguro, onde o diferente não é mais uma ameaça. Montamos dispositivos e aparato sociais para tentar garantir a preservação do diferente. Entretanto, o medo do diferente se manifesta continuamente.  A caminhada da civilização é longa.

 

Saltos de Produtividade da Humanidade

Há momentos em que a humanidade deu um claro salto de qualidade. Muitos desses saltos se referem a ganhos de produtividade, na produção de alimentos. Eles acabam deixando mais tempo livre, e nesse tempo livre as mentes de nossos antepassados puderam pensar, criar, sonhar…

Estou montando uma lista de momentos que acho importantes. Se quiser me ajudar a completá-la, deixe um comentário abaixo.

  1. Uso das primeiras ferramentas – o trabalho para cortar um animal abatido, diminui muito. Devemos lembrar que os dentes muito utilizados deviam se consumir muito. Ferramentas puderam, por exemplo (e possivelmente) ajudar os mais velhos e sem condições dentárias, a continuar se nutrindo. Alguns antropólogos afirmam que as ferramentas auxiliaram a obter a medula de ossos, que possui grande valor energético.
  2. Fogo – permitiu assar carnes e cozer alguns vegetais, facilitando a digestão e dando um aumento na capacidade de absorver nutrientes (e principalmente energia) a partir dos alimentos. Cada salto de nutrição significa um salto de tempo livre para cuidar de algo mais que a sobrevivência.
  3. Metais – com os metais foi possível melhorar a qualidade de ferramentas, tento novamente os mesmos ganhos de produtividade e liberando mais tempo. Começam a surgir mais funções especializadas – gente que se dedica só a isso, coisa que é viável pois os outros conseguem gerar alimento suficiente para estes especialistas.
  4. Escrita – a cultura e os saberes podem começar a ser anotados. Não mais é preciso aprender tudo o que se sabe na mesma geração. Fica-se imunizado da degradação da informação quando essa passa de uma geração para outra (como na brincadeira “telefone sem fio”). A partir de agora, o que se inventa pode ser perene. Não é preciso mais “reinventar a roda”.
  5. Agricultura – Fixa as pessoas em uma região. Aumento progressivo da quantidade de comida gerada. Inicia-se a melhoria genética de plantas e animais, através da seleção dos melhores. Nos séculos seguintes, povos agricultores avançam sobre os outros. A idéia pega. A produção dispara, há mais tempo livre, mais sobras. As cidades começam a se tornar viáveis.
  6. Cidades – permitem mais especialização de funções, mais indústria, mais contato entre pessoas, portanto mais difusão de saber. Uma tribu nômade com 100 membros não pode reter a mesma quantidade de conhecimento que uma cidade com 30.000 habitantes. Os especialistas podem aprofundar expertises em seu domínio específico do saber.
  7. Tipos Móveis – É a Escrita 2.0! Multiplica-se a capacidade de reter e difundir conhecimento. É uma revolução industrial, só que da informação.
  8. Revolução Industrial – Se a agricultura quase resolveu todos os problemas de geração de comida, essa revolução fez o mesmo com comida, roupas, ferramentas, utensílios, etc. Só a mecanização da lavoura gerou um impacto enorme nos séculos seguintes. Mais gente nas cidades, mais tempo livre. Modernamente chegou-se a espantosa marca de 2 a 4% da população gerando alimento para todos os outros!
  9. Revolução da Informação – talvez estejamos só no seu início. A automação dos meios de produção deixa ainda mais tempo livre.

Você pode se perguntar… Cadê o tempo livre? Eu corro o dia todo como um doido!

Isso se mede na população, não no indivíduo específico. O tempo livre se reflete para alguns como aumento de ganhos e para outros como desemprego.

O desemprego é sério nessa época. A tencologia destrói alguns postos de trabalho e cria outros. Entretanto, os tipos de trabalho criado não são os mesmos que os destruídos. As pessoas que perderam o lugar têm dificuldade de encotrar trabalho no novo ambiente.

Esse problema piora porque a tecnologia muda cada vez mais rápido. Cada vez menos tempo é necessário para um tipo de profissão mudar completamente. Precisamos de educação continuada, e aprendizagem ao longo de toda a vida.

Salman Khan: Vídeo para reinventar a educação

Salman Khan começou a fazer alguns vídeos para suas sobrinhas, ajudando-as em algumas aulas. Os vídeos começaram a ser usados por muitas pessoas ao redor dos EUA e pelo mundo. A esposa de um capitalista de risco viu os vídeos e começou a apoiar a iniciativa de Khan, trazendo dinheiro beneficiente e arrecadando doações. Ele montou a Khan Academy, que possui hoje mais de 2.600 vídeos.

Apesar da simplicidade proposta, Khan tem sido muito inovador, ao ponto de Bill Gates fazer a sua apresentação no TED.

O vídeo abre discussões sobre vários aspectos. Logo após 14º minuto há um gráfico que me marcou: mostra crianças que começam lentamente e, de repente, se tornam aprendizes rápidos. Isso contraria as espectativas comuns, de que no primeiro instante todos já mostram como será o desempenho. “Cada um à sua velocidade” é um dos seus pontos fortes.

A grande vantagem dos vídeos é que eles permitem recuperar o atraso. Pessoas que não entendem uma lição podem ficar definitivamente em desvantagem em aulas tradicionais. Com um vídeo, elas podem assistir quantas vezes for necessário, recuperar o atraso e voltar à corrida em pé de igualdade.

Isso me lembra o processo de aprendizagem de desenho de Betty Edwards, em seu livro “Desenhando com o lado Direito do Cérebro”. Ela descreve que aprender a desenhar tem um carácter abrupto – as pessoas não vão melhorando, mas a ficha cai de um momento para outro, como se as pessoas “aprendessem a desligar”, temporariamente, o lado esquerdo do cérebro.

Note que ele possui muitos exemplos em matemática porque foi onde ele começou e onde muitos sentem necessidade. Entretanto, há vídeos em várias áreas do saber.

Uma coisa que me fascina no uso de vídeos para a aprendizagem (como alternativa e complemento ao livro, não ao professor) é que eles podem ensinar o conhecimento tácito. Por exemplo, tente ensinar um nó de gravata através de um texto – muito difícil e tortuoso para o aprendiz.  Mas assista alguns vídeos no YouTube e … voilá.

Acredito que a Internet muda o mundo e como fazemos as coisas: como trabalhamos, como nos comunicamos, como exprimimos nossos pensamentos – qualquer um pode publicar o que quiser. Precisamos nos adaptar a esse novo mundo, a essa nova maneira de ver as coisas. Não se trata mais de saber tudo, mas se saber buscar e aprender… muito menos saber e mais pesquisa e absorção. Aprender a aprender é mais importante do que o conteúdo de fato.

Tive oportunidade de experimentar o uso de vídeos (a rigor, screencasts, gravações narradas das operações feitas na tela do computador). Foi quando percebi que as algumas vezes é melhor alguém ver como se faz, do que ouvir ou ler a descrição. Era exatamente o que acontecia em aulas práticas de informática. O resultado foi muito bom, definitivamente.

Jason Fried: Porque não se trabalha no local de trabalho

Nesta palestra concedida ao TED.com, Jason Fried faz algumas provocações bastante interessantes. Acho que a visão dele é importante para quem pensa e se preocupa com produtividade, com o rendimento e efetividade do trabalho e, com o empreendedorismo, intra-empreendedorismo e empresariamento.

Jason Fried publicou um recente livro, Rework, ainda só em inglês, em que detalha as suas idéias.

Acho que algumas de suas propostas são bastante corajosas, seguramente polêmicas, mas valem à pena ser pensadas a sério.

Empresas gastam muito tentando criar escritórios e ambientes que sejam adequados ao trabalho. Entretanto, ao perguntar às pessoas quando são mais produtivas, as respostas são surpreendentes.

Algumas tecnologias criam mais formas de interromper as pessoas. Ora, em algumas tarefas e trabalhos a interrupção é danosa –Fried faz um paralelo com as fases do sono. Pensar a tecnologia junto com os objetivos do trabalho e avaliar sempre seriamente o teletrabalho é, algo bastante sério.

Vale assistir e refletir!

O vídeo original está aqui:
http://www.ted.com/talks/jason_fried_why_work_doesn_t_happen_at_work.html