O que mudou no Brasil que dá certo ?

Fico preocupado com esse clima “já ganhou” que estamos passando. Acredito que temos a aprender com a situação e erros dos outros, e principalmente com os nossos. De certa forma, a grande intervenção necessária para responder à crise de 2008 nos fez sentir autorizados a gastar mais. Este é um risco que devemos evitar, principalmente enquanto estamos ofuscados pelo nosso sucesso mais recente.

Acredito que seja sadio nos perguntar o que mudou entre o Brasil dos anos 74-94 e o Brasil após o Plano Real, e principalmente, após 2002. Quais são as razões do sucesso recente?

várias razões, sem dúvida, mas creio que podemos creditar o boa parte do sucesso a três fatores – que ocorreram em governos diferentes.

O primeiro, e talvez o mais importante, é a ascenção da China. Países asiáticos sempre tiveram a tradição de serem economias com fortes superávits, verdadeiras máquinas de  exportação. Eles iniciam o crescimento produzindo produtos baratos e de baixa qualidade, depois aprendem a produzí-los com qualidade. Parece que o ímpeto se detém à medida que há uma troca de geração, a nova exigindo melhores condições de trabalho. Foi assim com o Japão, a Coréia e outros tigres com efeitos menos evidentes.

A China, entretanto, é diferente: sua população é 1,3 bilhão de pessoas. O impacto do seu crescimento é maior, levará mais tempo para que o nível de vida suba o suficiente para equilibrar o jogo do custo da mão de obra. Há 800 milhões de Chineses no campo, ainda não incluídos.

O Brasil se beneficiou muito da subida Chinesa. Os preços das commodities dispararam e todos os países produtores se beneficiaram – Brasil, Austrália, Canadá, e até a Mongólia. Basta ver, por exemplo, o crescimento do preço do minério de Ferro.

Este fatos nos é incômodo, pois é exógeno, externo – não veio que uma ação nossa. Entretanto é preciso reconhecê-lo para se preparar para um eventual período de vacas magras.

O segundo fator que nos empurrou, foi o Plano Real. É sadio nos perguntarmos o que mudou entre a época de inflação incontrolável e invencível e os dias de hoje. O Plano Real não foi apenas a remoção da componente inercial da inflação. Houve uma série de sorvedouros de dinheiro que foram sendo tapados. Pouco se fala nisso. Fechamos alguns ralos de dinheiro.

Miriam Leitão nos responde isso com riqueza de detalhes em seu livro “Saga brasileira, a longa luta de um povo por sua moeda”. Devemos ser gratos a ela pelo serviço que prestou à memória do país.

O terceiro fator foi o processo de redistribuição de renda. Várias pessoas começaram a fazer parte da sociedade, a consumir e poder pensar, planejar algum futuro, saindo da mera luta diária pela sobrevivência. Esse fenômeno culmina com a nova classe C e a emergência do país como um país de classe média.

Assim, atribuo nosso sucesso recente a um processo de “arrumação da casa”, que deve continuar; e a outro processo que está nos permitindo distribuir um dinheiro que sobra (China) a pessoas que eram excluídas e vem sendo brindadas com a possibilidade de participar da sociedade econômica.

Devemos, entretanto, estar alertas aos custos desse processo (desindustrialização, endividademento, perda da janela de oportunidade), lembrando-nos que não há almoço grátis.

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