O Mercado dos Intangíveis

O mercado dos intangíveis cresce sem ser notado e já toma parcela considerável do orçamento das famílias. E isso é bom.

Intangíveis são produtos e serviços que podem ser enviados pela internet. De forma mais rigorosa, chamo de software em sentido amplo todos os produtos que são puramente virtuais, formados de bits. Contrapõem-se aos produtos com presença física, que chamo de hardware em sentido amplo.

O mercado de software (nesse sentido amplo) representa a compra e venda de:

1. produtos imateriais, como música, filmes, ebooks (ou simplesmente livros), relatórios e estudos, projetos e qualquer outra coisa que pode ser enviada por e-mail (e, claro, software no sentido tradicional);

2. serviços sobre bens imateriais, como o design de uma marca ou objeto, um projeto arquitetônico, um plano de marketing, um relatório de consultoria, um plano estratégico, um plano de ação, ou qualquer coisa que crie ou transforme informação.

Vantagens

Dentro dessa ótica, a quantidade de pessoas que trabalha majoritariamente com software (em sentido amplo) é muito grande. E isso é bom por vários motivos.

1. Habilita o teletrabalho – permite que a pessoa trabalhe remotamente, pelo menos alguns dias, o que dá mais flexibilidade, reduz os custos com espaço físico para a empresa, pressiona menos a infraestrutura de transporte da cidade, o que a deixa mais limpa, e, aumenta a produtividade, no mínimo poupando o tempo de deslocamento;

2. Liberta das limitações geográficas – não é preciso produzir para consumo na sua cidade ou país. Se você é designer, por exemplo, pode vender seus serviços para outros países. O mesmo vale se você possui uma loja virtual e explora alguma cauda-longa;

3. Redistribui as chances – as cidades se formaram porque há vantagem da proximidade das pessoas, e cresceram muito por conta da revolução industrial. Grandes cidades dão mais chances, realimentando o processo. Quando o objeto no qual se trabalha se desmaterializa, a pessoa está livre para morar em qualquer cidade, ou, no sentido oposto, cidades fora do centro aumentam sua competitividade relativa;

4. Poupa recursos naturais – a produção de bens materiais consome recursos naturais. Por quanto tempo aguentaríamos se todos fossem ligados à produção desses bens e os consumissem no ritmo atual das economias desenvolvidas? Felizmente a própria evolução tecnológica está apontando para uma solução.

Tendência

O mercado do software (em sentido amplo) vem representando uma fatia cada vez maior do ‘bolo’ econômico, do PIB. Essa tendência deve continuar. Cada vez mais pessoas trabalharão na fatia vermelha do gráfico abaixo, cada vez mais produtos e serviços estarão ligados a esse setor.

Mercado dos Intangíveis

Produtos e serviços de ‘sofware’ representarão maior fatia da economia.

Isso se reflete no orçamento familiar. Antes do Plano Real, vinte anos atrás, por exemplo, a despesa familiar com serviços de telecomunicações – que nada mais é que o serviço de transporte de bits – era constituída basicamente de um produto: a linha telefônica fixa. Então surgiram as TVs fechadas, os celulares, a Internet, a necessidade de um celular por membro da família, e, mais recentemente, a necessidade de várias contas de internet para os membros da família – a do Notebook, a do Tablet, a do SmartPhone.

Também consumimos livros e revistas sem o suporte de papel, o que desloca essas despesas do lado do hardware para o lado do software (e desloca também, ao menos em parte, os trabalhadores das indústrias que produzem esses bens).

Esse movimento não significa que tudo vai mudar, que tudo será virtual. Significa apenas que a importância relativa dos setores mudará. Algo semelhante vem acontecendo com a agricultura.

Antigamente a maioria da população tinha que produzir o que comia. Esse número veio diminuindo e, com as modernas técnicas agrícolas, uma pequena fração das pessoas produz alimento para todas. Em alguns países, 2% da população produz para todos.

A indústria tradicional deve seguir caminho semelhante, tanto pela automação da produção, quanto pelo fenômeno chinês, que tem levado a indústria do mundo todo para lá.

Empregos

Muito se têm debatido sobre a destruição ou criação de empregos pela automação. O consenso parece ser que a tecnologia acaba com alguns empregos e cria outros. O problema seria que as competências necessárias para os empregos criados são diferentes das necessárias para os empregos destruídos.

Isso está de acordo o exposto. Se há máquinas capazes de fazer tantos produtos que saciariam a todos, novos produtos devem surgir. A capacidade inesgotável de produção de bens matérias não é mais limitada pela capacidade produtiva, mas pelos recursos naturais necessários e pelo espaço para guardá-los em casa.

Produtos e serviços baseados em software (em sentido amplo, ou seja, puramente informacionais) não ocupam espaço e abrem novas oportunidades de trabalho. A economia e a sociedade moderna vão ficando mais complexos, com mais produtos e serviços a serem produzidos e consumidos. Mais pessoas estarão envolvidas com ele, mesmo sem perceber.

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